Buscando mimetizar o processo de deterioração dos neurônios motores, inúmeros pesquisadores conduzem pesquisas para um melhor entendimento sobre a fisiopatologia da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), sendo essa uma doença progressiva, degenerativa e inexorável. É a partir dos processos envolvidos na gênese da doença que podemos criar uma estratégia em bloquear, ou alentecer, o processo de morte celular programada. O desenvolvimento de um modelo experimental que mimetize o contexto esporádico ou genético da ELA serve para testagem de novos medicamentos.
No último evento promovido pela ABRELA-SP (Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica de São Paulo, que é filiada à ALS Association), questões emergiram sobre o novo estudo que associa o NU-9 como um potencial reparador do processo de morte celular nessa doença, além de modelos em Esclerose Lateral Primária e Paraparesias Espásticas Hereditárias. O artigo conduzido por cientistas da Northwestern University, em Illinois (EUA), promove uma esperança no tratamento da ELA, e de outras doenças que comprometem os neurônios motores superiores. Vale ressaltar que na ELA “clássica”, tanto os neurônios motores superiores quanto os neurônios motores inferiores estão combalidos, embora a pesquisa seja voltada exclusivamente ao primeiro grupo.
Abordaremos, em poucas palavras, o estudo publicado na Clinical and Translational Medicine. De antemão, adiantamos que a proposta inicial dos autores fora destacar reparo nos danos (melhorias) à população dos neurônios motores superiores em modelos experimentais. Torcemos para que a descoberta aprume em investimentos e novos achados nas duas populações de células motoras (superiores|inferiores) e, obviamente, sua eficácia em humanos; não somente em frear a doença, mas também em retrocedê-la. Essa é a esperança de todos nós.
A denominação NU-9 (composto inicialmente identificado com base em sua capacidade de reduzir a toxicidade da proteína SOD1 mutada (mSOD1) assim como na gênese da patologia da TDP-43) fora “batizada” por um dos envolvidos. Os alvos terapêuticos são os emaranhados protéicos com déficits de modelagem (agregados), que ao acoplarem-se aos neurônios, os danificam. O comprometimento dá-se pela asfixia dessas células por dano mitocondrial e ao reticulo endoplasmático.
O estudo, com duração de 60 dias, utilizou um modelo experimental (camundongos geneticamente modificados). Indubitavelmente, após leitura crítica, plena e densa do artigo, os neurônios motores superiores mantiveram e recuperam suas funções. A expectativa é o inicio do medicamento em seres humanos. Obviamente, uma varredura dos efeitos colaterais (toxicológicos) e farmacocinéticos é primordial para ingresso na FASE I. Clin Transl Med, 2021 Feb;11(2):e336. doi: 10.1002/ctm2.336.
As proteínas contempladas no estudo são a superóxido dismutase 1 (SOD1) e as que marcam a patologia da TDP43 (Transactive DNA-binding protein 43) – principal agregado proteico anormal verificado em casos de Degeneração Lobar Frontotemporal (DLFT) e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). As mutações na TDP43 causam uma forma dominante de ELA e são responsáveis por cerca de 4% da ELA familiar e cerca de 1% da ELA esporádica. Em resumo, o composto NU-9 melhora a estrutura das mitocôndrias e do seu “alicerce” e estabilidade ao reticulo endoplasmático. Os níveis da proteína mSOD1 também declinaram no estudo, com estabilização dendritíca nos neurônios motores superiores. Ótimos resultados.
Autores
Marco Orsini
Jacqueline Stephanie Fernandes do Nascimento
Nicolle dos Santos Moraes Nunes
Universidade Iguaçu – Escola de Medicina
Acary Souza Bulle Oliveira
Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – Escola Paulista de Medicina.
Dra. Adriana Leico Oda
Dr. Acary Souza Bulle Oliveira
Dra. Cristina Salvioni
Dr. Marco Orsini