Paulo Rogério de Oliveira
Pós-graduação em Terapia da mão e do membro superior (Lato sensu) UFSCar.
Pós-graduação em Tecnologia Assistiva - FCMMG (Lato sensu).
Silvia Junko Nakazune
Pós-graduação em Reabilitação física - UNIFESP.
Tatiana Amodeo Tuacek
O terapeuta ocupacional é o profissional da área da saúde especializado em avaliação funcional e em propor soluções quando o indivíduo apresenta problemas na execução de suas tarefas. Esta análise é complexa sendo que feita nos eixos biopsicossocial e as intervenções são variadas, pois podem ser em questões de ordem física, emocional e social.
Aqui vamos falar do uso de Tecnologia Assistiva e sua implementação.
O que é tecnologia assistiva (TA)
O comitê de ajudas técnicas, em 2008, formulou a seguinte definição:
“Tecnologia assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social”.
Para facilitar o entendimento, podemos dizer que tecnologia assistiva seria uso de qualquer dispositivo, serviço ou técnica que auxilie na manutenção ou ganho de funcionalidade e promova maior autonomia de vida as pessoas. É importante citar que este processo de implementação do uso de tecnologia assistiva sempre terá maior chance de sucesso se acompanhada por terapeuta, pois esse consegue avaliar o que está prejudicando o desempenho do paciente e auxiliá-lo na escolha e treinamento do melhor dispositivo.
Desse modo, uma cadeira de rodas, uma adaptação para segurar o talher, órteses, adaptações veiculares e acessibilidade ambiental são ações em tecnologia assistiva. O uso dos recursos em conjunto com profissionais especializados na avaliação da doença, das potencialidades e dos produtos existentes pode ser entendido como tecnologia Assistiva.
Alguns exemplos de produtos assistivos
Abaixo há alguns exemplos de produtos que podem auxiliar na realização de tarefas cotidianas.
O adaptador de preensão universal (universal cuff) pode ser utilizado para pessoas que têm dificuldade em segurar os objetos (talher, escova de dentes). Há também dispositivos que facilitam a preensão (como o pen holder, writing device e swivel spoon).
Qual profissional devo procurar?
Segundo estudos, até 29,3% dos dispositivos indicados são abandonados, sendo que os principais fatores incluem treinamento e escolha inadequados. Por isso é importante que o uso destes recursos seja orientado por profissionais especializados. Assim evita-se, por exemplo, o gasto de dinheiro com recursos que não suprirão as necessidades do paciente e que causarão frustração nele e em seus familiares e cuidadores. Profissionais especializados auxiliam a evitar os ciclos de tentativa e erro na busca por soluções, diminuindo o gasto de energia e dinheiro por parte dos envolvidos no processo.
Há vários profissionais que atuam com a tecnologia assistiva, no entanto, no que tange os produtos relacionados a melhora no desempenho ou segurança para realização de uma atividade cotidiana o profissional mais adequado para essa avaliação é o Terapeuta ocupacional (TO).
O terapeuta ocupacional é o profissional da área da Saúde que avalia a capacidade funcional do paciente e por meio da análise da atividade define qual dispositivo de tecnologia assistiva é mais adequado para o paciente em determinado momento.
Para o uso de alguns dispositivos (como cadeira de rodas e órteses) essa avaliação do profissional é extremamente importante, pois evita, o gasto com modelos e adaptações que não serão úteis no decorrer da vida da pessoa. Este profissional auxilia a pensar nas adaptações para cada fase, mas também a pensar no uso a longo prazo, auxiliando na escolha da cadeira, melhor almofada, melhor apoio, etc.
Cabe aqui colocar que o profissional detém o conhecimento técnico, todavia a família, cuidadores e o paciente possuem o conhecimento do seu dia-a-dia. Então o processo de prescrição de TA é sempre feito em conjunto. Costumamos falar que todos fazem parte da equipe, tendo liberdade para questionar e debater com o Terapeuta Ocupacional e decidir em conjunto o melhor caminho a seguir.
Qual tipo de cadeira de rodas é melhor?
É importante saber que há no mercado diversos tipos de cadeira de rodas, e que cada uma é destinado a um grupo específico. Há variáveis como tamanho, peso, resistência, facilidade de transporte, facilidade de deslocamento, conforto e apoio que garantam maior tempo sentado, etc.
Além disso, para que a cadeira cumpra seu “papel” é necessário que ela seja individualizada para aquela pessoa. Esta individualização é o que chamamos de sistema de adequação postural.
Este é o sistema que garante conforto, funcionalidade e impedir instalação de deformidades em coluna, membros superiores e inferiores. Por isso deve ser prescrito por um profissional especializado (Terapeuta ocupacional e em alguns casos fisioterapeuta),de acordo com as necessidades do paciente.
Os modelos de cadeira de rodas mais comuns são:
Cadeira de rodas tipo monobloco
As cadeiras tipo monobloco se caracterizam pelo sistema de fechamento (o encosto inclina-se sobre o assento). Em geral essas cadeiras são mais leves e costumam ter boa estabilidade. São indicadas para pacientes com boa funcionalidade de membros superiores, principalmente para paraplégicos ou amputados de membros inferiores. Raramente são indicadas para pacientes com esclerose lateral amiotrófica, pois essas cadeiras tem um custo elevado e não acompanham a progressão da doença.
Cadeira de rodas com fechamento em “X”
Essas cadeiras possuem um “X” na parte inferior, e seu fechamento é realizado puxando para cima a lona do assento. Esse é um tipo de cadeira que pode ser utilizado por pacientes com esclerose lateral amiotrófica, desde que ele tenha controle cervical.
Há diversos modelos desse tipo de cadeira, as mais simples não possuem nenhum tipo de ajuste e sua lona é bastante frágil. Esse tipo de cadeira pode ser utilizada por períodos breves ou enquanto aguarda uma cadeira mais adequada, visto que não são confortáveis para longos períodos.
Algumas características interessantes de serem observadas nessas cadeiras são:
- Apoio de pé: É importante que haja regulagem na altura do apoio de pé para que a pessoa possa sentar-se de maneira confortável e com os pés bem apoiados. Além disso, a possibilidade de remoção do apoio de pé facilita as transferências;
- Apoio de braço: Há cadeiras que é possível remover o apoio de braço, ou levantá-lo. Essa característica também facilita as transferências. Há alguns modelos que permitem também a regulagem da altura do apoio de braço.
- Tipo de “X”: Há cadeiras com “X” simples e com o “X” duplo. A escolha do modelo está relacionada ao peso que a cadeira irá sustentar (tanto do paciente quanto da adaptação que por ventura seja utilizada). É importante notar que a cadeira de rodas com “X” duplo suporta um peso maior, porém possui uma estrutura mais pesada.
- Tipo de roda: Há cadeiras com rodas infláveis ou maciças. As rodas infláveis possuem uma câmara de ar é necessário calibra-la periodicamente. Essas rodas amortecem melhor o impacto em terrenos irregulares. As rodas maciças não precisam calibrar e nem tem o risco de furar, porém tem amortecimento inferior as rodas infláveis.
Cadeira de rodas reclinável
Modelo de cadeira de rodas mais utilizado na esclerose lateral amiotrófica, pois possuem o encosto mais alto e apoio de cabeça, proporcionando maior conforto para os pacientes. Essa é uma cadeira com fechamento em “X” que permite regular a inclinação do encosto por meio do pistão na manopla da cadeira. Todas as cadeiras reclináveis possuem encosto de cabeça e apoio de pé regulável.
Devido a altura do encosto, essa é uma cadeira maior que o modelo sem o reclínio, por tanto ocupam espaço maior no porta malas do carro.
Cadeira de rodas motorizada
Há diversos tipos de cadeira de rodas motorizada no mercado. São cadeira com preço mais elevado, mas constituem uma opção para pessoas que desejam ter maior autonomia porém não conseguem utilizar a cadeira de rodas manual de modo independente.
É importante saber que as cadeiras motorizadas são pesadas (50-70kg), portanto podem não ser interessante para pessoas que precisam subir escadas para acessar a casa ou cujo carro não seja adaptado para entrar com a cadeira inteira.
O joystick da cadeira de rodas pode ser instalado tanto do lado direito como esquerdo do paciente, pode ser utilizado também com o queixo (nesse caso é necessário instalar suportes especiais) ou mesmo ser colocado na parte posterior da cadeira, próximo a manopla para que o cuidador guie a cadeira de rodas.
Cadeira de rodas adaptada
É possível adicionar alguns itens a cadeira para deixa-la mais confortável ou funcional. Alguns exemplos de possíveis adaptações são: colocação de base rígida com cobertura de espuma para melhorar o posicionamento do paciente; colocação de suporte para bipap na cadeira de rodas.
Existem algumas lojas de cadeiras de rodas que oferecem o serviço de adaptação, é importante que esse processo seja sempre acompanhado por um terapeuta, e não apenas pelo vendedor ou pelo técnico.
Cadeira de banho
Há diversos modelos de cadeira de banho disponíveis, as mais comuns são:
Cadeira de banho simples
Cadeira de banho com 4 rodas baixas, elas são um pouco melhores para manobrar em banheiros com pouco espaço, porém devido a altura da roda não permite que o paciente locomova-se para o banheiro/quarto sozinho.
Cadeira de banho com aro de propulsão
As rodas traseiras desta cadeira são mais altas, permitindo que o paciente possa locomover-se de modo independente.
Cadeira de banho com reclínio de encosto
Essas cadeiras permitem o reclínio do conjunto assento+encosto por meio de um pistão localizado na manopla. Essas cadeiras possuem apoio de cabeça e são indicadas para pacientes com déficit de controle cervical.
Outros tipos
Há ainda outros tipos de banquetas que podem ser utilizadas durante o banho. Há modelos de banqueta rebatíveis, que são interessantes para os casos em que o espaço da área da banho é reduzido. Entretanto é sempre importante correlacionar a capacidade física do paciente com o dispositivo a ser utilizado.
Tamanho de cadeira de rodas
Assim como quando compramos uma roupa há tamanhos diferentes, há também tamanhos diversos para as cadeiras de rodas. Cada fabricante possui uma tabela de medidas diferente e esse pode ser um fator que fará o terapeuta optar por um fabricante em detrimento de outro.
As principais medidas que são feitas durante a prescrição de uma cadeira de rodas são: largura e cumprimento de assento e altura de encosto. Essas medidas são importantes para assegurar que a cadeira não fique muito apertada (podendo gerar lesões na pele e desconforto) e nem muito larga (dificulta o paciente alcançar o aro da cadeira de rodas para locomover-se e pode atrapalhar a passagem por portas). A altura do encosto também é um fator que pode interferir no manuseio da cadeira (quando o paciente consegue locomover-se sozinho), nas transferências (quando o cuidador auxilia o paciente segurando-o por tras), e no conforto (pacientes com déficit de controle de tronco irão se sentir inseguros em uma cadeira com encosto baixo).
A mensuração da cadeira de rodas deve levar em conta tanto as características do paciente como o ambiente no qual ela vai ser utilizada. Por isso é importante a avaliação de um terapeuta ocupacional para prescrição do modelo e tamanho correto.
O SUS dispensa cadeira de rodas?
Sim, todo paciente tem direito a uma cadeira de rodas. Cada cidade estabelece uma política para dispensação desses equipamentos. Para saber como iniciar o processo, procure a unidade de saúde mais próxima a sua casa ou a secretaria de saúde da sua cidade.
Cuidados com a cadeira de rodas
Uma cadeira de rodas bem cuidada pode ser utilizada por vários anos. É importante lembrar de limpar a cadeira de rodas, tirando cabelo/linha da rodinha da cadeira; passar lubrificante adequado nas peças; apertar os parafusos periodicamente; checar sempre a condição dos freios e cinto da cadeira e, quando necessário, realizar troca de peças.
O que são as órteses de membro superior?
As órteses são talas que podem auxiliar a manter o alinhamento de um segmento do corpo, evitando a instalação de deformidades, ou podem ser utilizadas para facilitar uma função. Segue abaixo alguns exemplos de órteses de membros superiores:
Órtese para posicionamento de punho e dedos: Indica quando há encurtamento de flexores de dedos e da musculatura intrínseca da mão. Auxilia a evitar deformidade.
Esse modelo de órtese com os dedos livres são indicados para pacientes com fraqueza de extensores de punho, mas que possuem função de dedos. O posicionamento do punho pode facilitar a funcionalidade.
Órtese para posicionamento de polegar pode facilitar a função de segurar objetos (como lápis/caneta, por exemplo).